sexta-feira, 10 de julho de 2009

A La Carte



Estou sentado à minha mesa. O restaurante está lotado. Senta-se diante de mim a mais linda mulher que existe e pedimos por um saboroso prato para nos aplacar a fome, enquanto conversamos animadamente sobre abstrações e assuntos afins. As outras mesas são ocupadas por pessoas que, assim como eu, esperam suas refeições. O balcão começa a ficar apinhado de pratos que começam as esfriar rapidamente, enquanto os atendentes fazem qualquer coisa que não levá-los à mesa dos clientes.

O cozinheiro então se depara com uma dispensa vazia. O ultimo pedaço de comida é levado por um rato maroto, que some num buraco sombrio. A bela mulher diante de mim está com fome. A conversa pára. Ficamos com frio mas não conseguimos ficar à mesa e nos abraçar, então passamos frio para não perder o lugar. Lá fora pessoas esperam para serem atendidas. O restaurante começa a cheirar comida fria e hálito de fome. Um cheiro azedo que brota das gargantas famintas de todos os presentes. Com fome, começamos a discutir.

Nossa discussão incomoda a mesa do lado, que começa a interferir na nossa discussão de forma grosseira. Logo pessoas de mesas vizinhas começam a tomar partido e uma grande confusão se arma. Os que se levantam para resolver a briga perdem o lugar para os que estavam lá fora esperando. Os pedidos esfriam no balcão. Gritos e xingamentos. Agressões físicas. Já não sei mais onde me sentava. As pessoas que estão esperando que seus pedidos cheguem às mesas começam a ser empurradas pelos que estão de pé, que são empurrados pelos que estão de fora. Alguém está sangrando.

O pânico está instaurado, mas a confusão é tão grande que não se pode mais sair dali. Noto que existem muitos que sequer se levantam. Apanham sem esboçar reação. Os que tentam entrar obstruem a saída. Ouço um choro de criança. Não sei bem de onde. Acho que bati em minha garota. Não tenho certeza. Piso em algo que grita. Acertaram-me uma garrafa. Viro-me e golpeio sem ter certeza se era a pessoa certa... ou errada. Acho que quero sair daqui. O cozinheiro aparece gritando. Ele tem uma faca. Alguns se assustam. Alguns param a confusão. A maioria avança e tenta tomar-lhe a faca. Muitos acabam no chão em poças de sangue crescentes.

Ninguém mais lembra o que veio comer. Os pratos já caíram no chão e viraram uma pasta escorregadia onde uns deitam caídos, outros chafurdam famintos.

O barulho vai diminuindo enquanto fica patente que ninguém ali vai comer mais, porque mataram o cozinheiro, a dispensa está vazia, a comida estragou e todos estão condenados a ser mortos pela multidão que está entrando sem saber de nada disso.

Caímos um por um, em silêncio. Nós poderíamos ter nos servido. Mas jamais nos serviríamos.

Nunca mais venho aqui.

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